Doratildo Pereira de Oliveira
Vida de poeta é sarça ardente, é chama que se eleva com delicado furor e consome a sensibilidade, chamusca o ideal e alastra-se em revolteios que envolve o mundo. É fogo brando, incêndio da alma, doce convulsão de sentimentos.
Vida de poeta é sarça ardente, é chama que se eleva com delicado furor e consome a sensibilidade, chamusca o ideal e alastra-se em revolteios que envolve o mundo. É fogo brando, incêndio da alma, doce convulsão de sentimentos.
O poeta é um andarilho, subjetivo, nos caminhos tortuosos, na malha infindável de trilhas que compõem o labirinto do existir. Mui raro, no entanto, vê-se em um espraiado de grande beleza, fulgurante, e aí descansa por instantes, versando sobre as maravilhas que somente os seus olhos veem.
Há dois poetas em si, almas gêmeas que habitam o mesmo ser. Inquietas, e às vezes conflitantes, uma se envereda pelas vias serenas, alegres e festivas do caminho, na afável tarefa de cantar as alegrias da Natureza; a outra, amargurada, desce às profundezas do abismo que permeia a estrada, perscrutando as vicissitudes que as povoam. Ambas, contudo, são espelhos da alma, janelas da vida: uma, pra for
, desprendida, que sobrevoa o vasto mundo, até onde a vista alcança, no gorjeio maravilhoso do belo; a outra, janela pra dentro, que sensível e delicada, tece teias com as filigranas da vida, que voeja com ternura sobre um mar turbulento, chorando dor tão doída.
Ser poeta é ser um misto de ternura e de enérgico amor. É amar e odiar com a grandeza dos sentimentos que sublimam o ser humano. É pulsar constantemente, num turbilhão de passividades que agitam e aquecem o peito.
Ai, de quem nunca foi poeta, de quem nunca amou, que não enxergou o belo e não sentiu os eflúvios que emanam do eterno existir!
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