A minha família, incluindo o lado da minha mãe e do meu pai, tem como origem o Estado do Rio Grande do Sul. Vale ressaltar que, como a maioria das famílias brasileiras, nós trazemos no sangue influências genéticas de europeus e, principalmente, dos povos vizinhos do Rio Grande do Sul, ou seja, argentinos, uruguaios, etc.
Da parte da minha mãe, o primeiro a chegar a Dourados foi meu bisavô Joaquim Teixeira Alves, acompanhado da sua esposa Pureza Carneiro Alves, por volta de 1900, ele oriundo de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. Joaquim era Capitão de Infantaria da Guarda Nacional, título concedido pelo Presidente da República, em 15 de fevereiro de 1899, no governo de Campos Sales. Logo após chegar ao local, onde atualmente é a cidade de Dourados, ele tomou posse de uma área de terras devolutas de 3.600 hectares, localizada em um lugar denominado de Coqueiro, posteriormente Fazenda Coqueiro.
Depois de regularizar toda a situação da área (demarcar, medir, mapear, etc.), em 08 de julho de 1910, Joaquim comprou do Estado de Mato Grosso, pelo preço de oitocentos réis o hectare. O título definitivo de propriedade só foi concedido pelo Estado de Mato Grosso, em 19 de junho de 1916. Para regularizar a referida área e concretizar o negócio, Joaquim precisou fazer uma viagem a cavalo, até Cuiabá-MT. Parte dessa área, onde atualmente é a cidade de Dourados, foi o motivo do desentendimento entre os pioneiros Joaquim Teixeira Alves e Marcelino Pires, proprietário da Fazenda Alvorada. A referida área (conflito) foi doada para a formação do Patrimônio de Dourados, hoje cidade de Dourados.
Conforme relatos da minha família, ou seja, Dona Pureza Carneiro Alves, João Carneiro Alves e Salustiano Carneiro Alves, a terra doada para a formação do Patrimônio de Dourados, realmente pertencia a Joaquim Teixeira Alves. O tio Salustiano, mais conhecido por “Seu Salu”, deixou registrado no livro Os Pioneiros, Viajantes da Ilusão de Maria Goretti Dal Bosco, página 11, o que sempre afirmou, ou seja, que achava injusto o nome da principal avenida da cidade de Dourados, receber o nome de Marcelino Pires, pois tinha certeza que a terra doada para a formação do Patrimônio de Dourados, pertencia ao seu pai Joaquim Teixeira Alves. Isso coincide com a afirmação do pioneiro José de Matos Pereira, mais conhecido por Juca de Matos, nascido em 1898, que disse: “essa terra era de Joaquim Teixeira Alves, não sei explicar os detalhes”, conforme está registrado no livro Aspectos Históricos do Povoamento e Colonização do Estado de Mato Grosso do Sul, de Lori Alice Gressler e Lauro Jappert Swensson, página 69. Já no livro Seus Pioneiros,Sua História, de Rozemar Mattos Souza, o autor retrata que Joaquim, logo que chegou aqui (1903), tomou posse de uma área de terras, compreendida entre a Cabeceira Alegre, Cemitério, Salto e a atual região central da Avenida Gonçalves Torres, para baixo, indo até à Rua Albino Torraca. Relata, também, que parte dessa área transformou-se no Patrimônio de Dourados. Vale ressaltar que, em 1915, a referida área foi regulamentada, através de Decreto Governamental.
Já para a minha família, a terra ocupada e depois adquirida por Joaquim, iniciava na Figueira Histórica (início da Avenida Guaicurus), na quadra da COMID- Máquinas Agrícolas, e descia em direção ao Parque Antenor Martins e, logo depois, margeava o Córrego Água Boa, abrangendo parte do atual Jardim Itália, pois a casa de Joaquim Teixeira Alves localizava-se, aproximadamente, entre a Praça Paraguaia e o Jardim Hilda. Abrangia, também, o centro da cidade, Estação Rodoviária, Bairro Cabeceira Alegre, Cemitério Santo Antonio, Bairro Izidro Pedroso, Estádio Douradão, além de parte da Fazenda Coqueiro, área contígua ao Estádio, estendendo-se até o Córrego Engano.
Essa afirmação confere com o depoimento de Dona Olinda Pires, filha caçula de Marcelino Pires, que disse: o meu pai comprou uma área de terra na região onde hoje é o Parque Alvorada e Jardim Flórida, até o atual colégio Reis Veloso (Pag. 18, do livro Os pioneiros/Viajantes da Ilusão, de Maria Goretti Dal Bosco), ou seja, Fazenda Alvorada. Portanto, conclui-se que a Figueira Histórica e parte do Córrego Água Boa faziam parte da divisa das terras de Joaquim com as de Marcelino. Como já foi mencionado, Joaquim Teixeira Alves morava próximo da atual Praça Paraguaia, local onde foi assassinado. Logo depois, a Dona Olinda Pires fala de uma outra área que o seu pai havia tomado posse, que iniciava na rodovia que, atualmente, liga Dourados a Caarapó, perto da EMBRAPA, estendendo-se até o centro da cidade. Segundo ela, foi aí que surgiu o desentendimento entre Joaquim e Marcelino. Ela afirma, também, que essa terra nunca foi regularizada por Marcelino.
A minha família sempre afirmou que o desentendimento ocorreu porque a terra que o Marcelino queria doar para a formação do Patrimônio de Dourados, pertencia a Joaquim Teixeira Alves. Mesmo assim, Joaquim ouviu o pedido do amigo Januário Pereira de Araujo e de outros pioneiros e cedeu a área para a doação, ou seja, ele tomou posse e comprou do Estado de Mato Grosso 3600 hectares e escriturou somente 2955 ha. Acredita-se que essa diferença, ou seja, mais de 600 hectares foi a parte que Joaquim doou para a formação do Patrimônio de Dourados, certamente, incluída na área de 3.600 hectares, conforme Decreto número 402, publicado na Gazeta Oficial do Estado de Mato Grosso, em 11 de setembro de 1915, onde o Presidente do Estado de Mato Grosso, General Dr. Caetano Manuel de Faria e Albuquerque, reserva a referida área para o Patrimônio de Dourados. O referido Decreto, inclusive, cita as divisas dessa área (3.600 ha), com Joaquim Teixeira Alves e com Marcelino Pires, além de outras.
Joaquim Teixeira Alves, além de Capitão de Infantaria da Guarda Nacional, era pecuarista. Viveu em Dourados até 1916, quando foi covardemente assassinado, com um tiro pelas costas, disparado através de uma fresta existente na parede da cozinha da sua casa, quando ele estava sentado, tomando mate ou chimarrão. Inclusive, o seu filho João (meu avô) que estava servindo o mate, com apenas dez anos de idade, também foi atingido pela bala de carabina, após ter perfurado o corpo do seu pai. Felizmente o menino sobreviveu. Conforme o tio Salustiano, o médico que atendeu o meu bisavô e o meu avô, chamava-se Dr. Hábito e veio a cavalo de Ponta Porã para socorrê-los. Há registro que um médico de São Paulo, chamado João Abbott, que havia adquirido uma fazenda na região, também, prestou assistência.
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